A partilha
A partilha

A Carta Internacional apresenta a partilha como "um momento essencial em que, na presença de Deus e numa atitude de confiança fraternal, cada um tenta fazer o balanço dos acontecimentos mais significativos da sua vida pessoal: dificuldades e esforços, alegrias e esperanças em todos os domínios – familiar, espiritual, estudos, trabalho, tempos livres, projectos e compromissos" (CI, IV-1b).

A partilha precisa da atenção exclusiva de cada um e, por isso, não se deve misturar com o reboliço da refeição. Sendo ao mesmo tempo partilha de vida e de evolução espiritual, este tempo deve ser precedido da oração inicial e, portanto, enquadrar-se plenamente na reunião propriamente dita. Se acontece antes ou depois da discussão do tema, isso fica ao critério de cada equipa. Fundamental é que lhe seja reservado um tempo próprio (30 minutos ou mais) para que cada um possa intervir.

Tal como os outros tempos da reunião, também a partilha deve ser preparada prévia e individualmente, apesar disso todos devem intervir, nem que seja para dizer que "não tenho nada para partilhar este mês". Cada membro deve escutar quem fala mas também pode fazer-lhe perguntas oportunas, ou dar o seu conselho.

A partilha ensina-nos, em primeiro lugar, a encarar-nos a nós próprios com verdade. É o lugar privilegiado onde podemos ser e aprender a ser nós próprios. Em todas as equipas há uma dificuldade inicial de cada um fazer a partilha de vida, da sua vida. Porém, devido aos laços que unem as pessoas dentro da equipa (um ideal comum, uma Fé idêntica, etc.), a reunião torna-se um momento privilegiado para partilhar assuntos que não se abordam noutras circunstâncias. A partilha é, portanto, algo de íntimo e próprio de cada equipa e deve ser respeitado como tal.

A partilha de vida ensina-nos a descobrir, pouco a pouco, todas as riquezas da nossa religião. Geralmente, temos uma certa bagagem catequética, de ritos, de modos de pensar: chegou o momento de mostrar aquilo em que realmente acreditamos, de mostrarmos que a Fé que recebemos é realmente a nossa.

Ao fazermos uma partilha de vida, e não tanto uma partilha de ideias, descobrimo-nos a nós próprios no que dizemos e no que ouvimos dizer. A nossa intervenção faz

crescer o desejo do outro também partilhar. Da confiança nasce mais confiança e, de repente, num momento em que alguém abre a sua vida completamente, sente-se a profunda união deste grupo de amigos que ainda mal se conhecia, mas que rapidamente aprendeu a trazer para a equipa aqueles problemas e angústias (que todos temos) e que só para si guardavam. O essencial é não ter medo da reacção dos outros, até porque a reacção mais habitual, embora inesperada, é a de uma extrema compaixão - no sentido literal, 'sentir com' - por parte de todos.